Após pressão da bancada ruralista, Temer altera o comando da Funai


PEDIDO DA BANCADA RURALISTA É ATENDIDO E TEMER ALTERA O COMANDO DA FUNAI


Reprodução: Google
No último dia 23 de Abril o Presidente Michel Temer, pressionado pelos seus aliados formadores da bancada ruralista no Congresso Nacional, decidiu trocar o comando da Fundação Nacional do Índio (FUNAI) nomeando para exercer a presidência da Fundação Wallace Moreira Bastos.

Até então, a presidência da entidade estava sob o comando do General Franklinberg Ribeiro de Freitas, General da 1ª brigada de infantaria da selva em Roraima e que também foi chefe de operações do Comando Militar da Amazônia, além de ser Doutor em Ciências Militares.

Chamou a minha atenção esta nomeação para o comando da FUNAI, não somente pela importância que a entidade carrega, mas, sobretudo, pela reação dos grupos indígenas e estudiosos que se dedicam ao tema, bem como, em razão da motivação da exoneração, conforme noticiou o Jornal Estado de São Paulo “cerca de 40 deputados e senadores apresentaram uma carta ao presidente, solicitando a demissão de Franklimberg, sob argumento de que o atual presidente da Funai não tem colaborado com o setor”[1].

A nomeação de Wallace é um exemplo claro da velha e já conhecida política do país, por dois motivos:
        1) Deriva de um pedido do setor que justamente não mantêm nenhum interesse com a causa indígena, tendo em vista que as terras usualmente demarcadas pelo Governo estão em localidades que interessam a exploração por grandes empresários;
         2) Analisando o currículo do Ministro[2] disponibilizado pelo Ministério do Transporte, Portos e Aviação Civil, verifica-se que Wallace despontou diversos cargos no setor aeronáutico e com clareza presumo que experiência na área não lhe falta, contudo, a recíproca não se mostra verdadeira em relação a questão indígena.
Acontece que não é raro encontrar em notícias recentes na política brasileira questionamentos acerca das nomeações realizadas para ocupar o comando das pastas ministeriais do Governo. Dentre os exemplos mais emblemáticos que cabem ser citados neste pequeno artigo, destaco a) a nomeação do ex-deputado Geddel Vieira Lila b) do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva à pasta da Casa Civil e c) da Deputada Cristiane Brasil ao Ministério do Trabalho.

Nos três casos, ficou evidenciado a tentativa de se realizar articulações políticas através de atribuições de cargos ministeriais para fortalecer alianças partidárias do governo, no caso de Lula a situação foi ainda mais emblemática em razão da suposta tentativa da ex-presidente Dilma Roussef tentar conferir foro privilegiado a Lula,  já em relação a Deputada Cristiane Brasil havia a nomeação de uma deputada ao Ministério do Trabalho que não tinha um histórico considerado “correto” em relação ao cumprimento da legislação trabalhista.

Não haveriam espaços para críticas se estas nomeações levassem ao comando das pastas, nomes de especialistas no assunto, já que os Ministérios acumulam funções de aconselhar o Presidente na tomada de decisões em determinadas áreas.

Em qualquer caso estas nomeações significam dinheiro público mal investido, já que todos os ministérios acumulam verbas destinadas a efetivação das atribuições públicas que lhe competem, além do pagamento de todos os funcionários que compõem a pasta, sem mencionar o tempo perdido no quesito avanço social na implementação de políticas públicas condizentes com o atual momento do país, já que em sua maioria a falta de expertise dos dirigentes destas pastas levam ao cometimento de velhos erros do passado, quando o assunto é política social.

Para bem da verdade, há muito tempo que as bancas ministeriais do Governo são utilizadas como moedas de troca entre os partidos aliados aos interesses da Presidência.

Se assim não o fosse, não seria nomeado à direção de uma entidade tão sensível como a FUNAI, um indivíduo que sempre dedicou a sua atuação seja política ou empresarial à área do transporte civil, aliás, buscando analisar o currículo do Deputado, fica latente o despreparo para tratar de assuntos como a) assassinato de líderes indígenas b) demarcação, identificação e regularização das ocupações  indígenas c) desenvolver políticas voltadas ao desenvolvimento das populações indígenas e) reduzir os impactos sobre as áreas indígenas causados pelos agentes externos, nesta última atribuição verifica-se um grande conflito de interesses entre a bancada ruralista e a população indígena, no  caso Wallace foi nomeado a pedido desta bancada, arrisco presumir sobre qual interesse o Ministro irá primar a sua estadia na pasta.

Temer, vulgariza um órgão sensível, para promover a manutenção de seus dias na cadeira da Presidência.

Ainda sobre o assassinato de líderes indígenas, existem fortes indícios de contratação de milícias armadas por empresários rurais, os mesmos que financiam as campanhas parlamentares que formam o cerco da bancada ruralista.

Veja, o que busco pontuar, não é a atuação de Wallace, ou dizer que seu currículo não revela um profissional competente, tampouco que este não realizará um bom comando da entidade. O que se revela violado nestas nomeações puramente políticas é o princípio da moralidade administrativa, que deve ser observado em todas as ações do Governo, conforme dispõe o artigo 37 da Constituição Federal.

Sobre o princípio da moralidade administrativa na área jurídica, este é conceituado como uma regra geral que deve ser observada por todos os agentes públicos na condução dos atos ligados à sua função pública, devendo observar os ditames emanados da sociedade no que concerne o dever de honestidade (probidade), respeitar e agir conforme a lei (legalidade) e ser ético.

A violação do princípio da moralidade, em regra, tem o intuito de caracterizar um ato ilícito administrativo ou de desvio de poder, conforme registra a professora Maria Sylvia Di Pietro:

"[...] a imoralidade administrativa surgiu e se desenvolveu ligada à ideia de desvio de poder, pois se entendia que em ambas as hipóteses a Administração Pública se utiliza de meios lícitos para atingir finalidades metajurídicas irregulares. A imoralidade estaria na intenção do agente" (DI PIETRO, 2013, p. 78).

Uma pasta ministerial requer uma pessoa com conhecimentos técnicos na área destinada a atuação do órgão. É bem verdade que haverá centenas de servidores para auxiliar o Dirigente e podem evitar, eventualmente, a realização de eventuais incongruências com a causa indígena, mas, fica o questionamento: qual a grande proposta que Wallace poderá levar à população indígena? Além de representar em maior grau os interesses da bancada ruralista?


É preciso estar atento a estas atitudes violadoras da moralidade pública e criticá-las, pois, a cada decisão mal tomada do governo e não questionada pela população, somam-se mais dez anos de atraso e perpetuação de um governo marcado pela troca de favores.


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